Na tarde de 14 de janeiro de 2025, às 18:48 em Lisboa, Portugal deu um salto histórico no espaço: dois satélites nacionais, o LusoSpace e o University of Minho, foram lançados a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9 da Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia. O lançamento do PoSat-2, custeado com cerca de €1 milhão, não foi só um sucesso técnico — foi um símbolo. Honra o primeiro satélite português, o PoSAT-1, lançado em 1993, e inaugura a constelação ATON, que promete revolucionar a comunicação marítima no Atlântico.
Do laboratório ao espaço: o que os satélites fazem
O PoSat-2 é o primeiro satélite comercial português. Desenvolvido pela LusoSpace, ele carrega a tecnologia VHF Data Exchange System (VDES) — um sistema de comunicação criptografada entre navios e terra, capaz de enviar alertas em tempo real e trocar dados de navegação com muito mais eficiência do que os sistemas atuais. A Marinha Portuguesa já se associou ao projeto, buscando integrar esses dados aos seus sistemas de vigilância marítima. A ideia é clara: proteger rotas comerciais, combater a pesca ilegal e melhorar a segurança em águas profundas — áreas onde Portugal tem interesses estratégicos. Já o Prometheus-1, um satélite do tipo PocketQube (menor que um cubo de 10 cm), foi construído inteiramente por estudantes da Universidade do Minho. Não é apenas um experimento — é uma sala de aula em órbita. Alunos de engenharia aeroespacial, elétrica e telecomunicações já conseguem enviar comandos e receber dados em tempo real, simulando operações reais com réplicas no solo. "É como se os alunos estivessem no controle de uma nave espacial sem sair do campus", disse um dos orientadores, ao vivo durante o evento em Lisboa.Um ecossistema espacial em crescimento
A Agência Espacial Portuguesa, criada em 2019, hoje coordena 87 empresas e 46 centros de pesquisa ligados ao setor espacial. Isso não é acaso. Desde que Portugal se juntou à Agência Espacial Europeia (ESA) em 1999, o país passou de espectador a protagonista. Em 2024, já havia lançado o ISTSat-1 e o Aeros MH-1. Agora, com o PoSat-2, o país entra na elite dos pequenos países com capacidade de desenvolver e operar constelações satelitais próprias. O projeto ATON foi financiado inicialmente pelo programa InCubed+ da ESA e depois integrado à Agenda New Space Portugal, parte do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A meta? Lançar os outros 11 satélites da constelação em duas fases: no último trimestre de 2025 e no início de 2026. Isso significa que, em menos de dois anos, Portugal terá uma rede completa de satélites operando em órbita — algo que só 10 países da UE conseguiram até agora.
O que vem a seguir: do Atlântico à Lua
Mas o futuro é ainda mais ambicioso. A Constelação Atlântica, um sistema de observação da Terra, será lançado nos próximos anos. Desenvolvido pelo CoLAB +ATLANTIC, ele monitorará mudanças climáticas, desmatamento e poluição marinha — dados que serão usados por governos e ONGs da região. E não para por aí. Em 2027, a Space Rider, uma espaçonave europeia, pousará em Santa Maria, nos Açores — o primeiro pouso de uma nave reutilizável na Europa fora da França. O local já foi licenciado como o primeiro espaçoporto português, com lançamentos orbitais previstos para 2025. "Não estamos apenas recebendo uma nave. Estamos criando uma base de operações para a nova economia espacial", afirmou um porta-voz da Agência Espacial Portuguesa. Além disso, Portugal lidera a missão Ariel, prevista para 2029, que analisará as atmosferas de mil exoplanetas. Também participa da missão Plato, de 2026, que busca planetas semelhantes à Terra. E, curiosamente, a tecnologia portuguesa já está em uso no mundo: sistemas de pedágio por satélite desenvolvidos por empresas nacionais operam nos Emirados Árabes Unidos.
Por que isso importa para todos nós
A corrida espacial não é mais só para grandes potências. Portugal prova que, com foco, colaboração entre universidades e empresas, e investimento inteligente, um pequeno país pode ter impacto global. Esses satélites não só protegem nossos mares — eles criam empregos de alta tecnologia, atraem investimentos e colocam o país no mapa da inovação. E, para os jovens que sonham em trabalhar com ciência e tecnologia, esse é o sinal mais claro possível: o futuro está lá em cima — e Portugal está construindo o caminho.Frequently Asked Questions
Como o PoSat-2 melhora a segurança marítima em Portugal?
O PoSat-2 usa a tecnologia VDES, que permite comunicação criptografada e em tempo real entre navios e terra, algo que antes não existia em escala nacional. Isso permite alertas mais rápidos de emergências, rastreamento preciso de embarcações e combate à pesca ilegal, especialmente nas zonas econômicas exclusivas portuguesas no Atlântico. A Marinha já está integrando esses dados ao seu sistema de vigilância.
O que é a Constelação ATON e por que ela é importante?
A Constelação ATON é um grupo de 12 satélites portugueses que, quando completos, formarão uma rede de comunicação marítima contínua no Atlântico. O primeiro, o PoSat-2, já está em órbita. Os próximos 11 serão lançados até o início de 2026. Essa rede será a primeira do tipo em nível europeu com capacidade de troca de dados bidirecional criptografada, essencial para segurança, logística e meio ambiente.
Como os estudantes da Universidade do Minho estão envolvidos?
Eles desenvolveram o Prometheus-1, o primeiro satélite PocketQube português, e agora o controlam remotamente. O projeto é parte do currículo de engenharia e telecomunicações, permitindo que alunos pratiquem operações reais de satélites com réplicas no solo. É treinamento prático de ponta — algo raro em universidades europeias de pequeno porte.
Por que a Space Rider pousará nos Açores?
Santa Maria foi escolhida por sua localização estratégica no Atlântico, clima favorável e infraestrutura já preparada. O pouso, em 2027, será o primeiro de uma nave reutilizável europeia fora da França. Isso transforma os Açores em um hub espacial, com potencial para lançamentos futuros e manutenção de satélites, atraindo investimentos e talentos para a região.
Portugal já tem tecnologia espacial em uso no exterior?
Sim. Empresas portuguesas desenvolveram sistemas de cobrança de pedágio por satélite que operam nos Emirados Árabes Unidos. Essa tecnologia, originalmente criada para o mercado europeu, foi adaptada para uso em grandes metrópoles com tráfego intenso — mostrando que inovações feitas em Portugal podem ter impacto global.
Qual é o próximo passo de Portugal no espaço?
Além da Constelação Atlântica e dos lançamentos da ATON, Portugal está preparando o primeiro lançamento orbital do seu próprio espaçoporto nos Açores, previsto para 2025. Também lidera a missão Ariel de 2029, que estudará exoplanetas, e participa da missão Plato da ESA. O país quer ser referência em observação da Terra, segurança marítima e exploração espacial sustentável.